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  • Foto do escritorBe Melo

O Meu Primeiro Fio de Cabelo Branco

A descoberta foi traumatizante. Quando dei por mim ele já estava ali, instalado no centro do meu couro cabeludo, que interessante! Não pensei que apareceria tão cedo assim... Pensei logo em tirá-lo dali.

Eu tinha apenas 19 anos, estaria eu envelhecendo mais rápido que o normal? Seria o espelho um inimigo real? Não... Acho que não... Mas que estranho. Por que este fio de cabelo branco tinha de se instalar justo ali, no alto da minha cabeça? O mesmo era tão aparecido que não fazia a mínima questão de se esconder. METIDO! Era "novo no pedaço", mas mesmo assim não fazia a menor menção de se misturar. Num segundo momento decidi que não queria arrancá-lo. Mas, Poxa!!! Eu sou baixinha, ele poderia ter escolhido outro lugar para nascer...

Após alguns segundos da descoberta fiz as pazes com o espelho. Com calma tateei meu cabelo fio a fio até encontrá-lo novamente. Assim que o avistei meu coração acelerou e decidi analisá-lo. Ele era branco, do tipo que não esteve sempre ali, acompanhou os meus primeiros passos, era castanho e com os anos foi embranquecendo. Desconfio que este acabara de nascer. O tom era meio acinzentado e um comprimento que não me deixa mentir sobre seu ar de novidade. Os prováveis 8 centímetros eram ondulados e o tempo todo desafiavam a veracidade da minha juventude.

Subitamente uma reflexão adentrou meus pensamentos. Sim, é isso! O fio de cabelo branco é um sinal de alerta, um grito de socorro, uma ampulheta que acabou de se virar, um relógio que não tem a função de esperar. Talvez seja ele uma pontinha de esperança, algo que me faça acordar. Receio que eu não tenha vivido tão intensamente quanto deveria... Dançado sem me preocupar com o que os outros vão pensar, gargalhado sem hesitar, chorado até meus olhos quase secar e amado sem medo de me machucar.

Agora, mais do que nunca, entendi que o meu primeiro fio de cabelo branco não nasceu para me perturbar e sim para me ver e fazer desabrochar. Passei a gostar de pensá-lo como uma oportunidade. Sim, oportunidade de viver o que não vivi, dizer o que ainda não disse, fazer o que antes não passavam de planos... Talvez não seja preciso fazer tudo diferente e sim executar agora aquilo que inexplicavelmente deixaríamos para amanhã. O tempo urge, os segundos não param de passar e o nosso futuro não pode esperar.

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