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  • Foto do escritorBe Melo

No Farol

É no farol que somos colocados à prova da nossa bolha metálica. Torço para que o nosso coração não fique tão duro quanto a lataria de um carro. O que é um vidro perto do abismo social que nos separa? Tão transparente quanto a janela do carro é a realidade. Alguns escolhem não enxergar. Mas ver? Ah, isso todo mundo vê. É no farol que por vezes repetimos não poder colaborar na compra de uma balinha de hortelã. Daquelas que vêm embaladas e custam 1 real.


Tem gente que tem a coragem de fechar o vidro da sua BMW e ainda fazer mímica de “hoje eu não tenho”. Tem dias que eu estou a pé, mas tem dias que também estou de carro. E não é diferente. “Hoje não tenho”, “hoje não posso”, “hoje não”, “já ajudei ontem”, “já contribui com o seu amigo ali de trás”. É uma sequência de “hojes” que não termina, não se finda, paralisa.

É óbvio que você não tem culpa da situação que o rapaz enfrenta na rua ou da menina que carrega o irmão, que é quase do tamanho dela, no colo. Não é isso. Mas não neguemos a nossa responsabilidade em construir um mundo menos desigual e mais favorável àqueles que necessitam.


Somos humanos aprendendo a viver em sociedade. Sim, aprendendo, pois até agora poucos grupos chegaram a se entender enquanto parte de um todo que colabora. Desculpa se pensar assim te desconforta na mesa de privilégios que você recebeu. Passo por isso também, sei como é. Ainda que não tenhamos o mesmo banquete, cada um de nós sabe e conhece aquilo que o outro não tem. É visível.


Invisível aos olhos de quem não quer entender é a hipocrisia. Assim como julgam que o morador de rua vai usar o dinheiro que você não quer dar para comprar bebidas alcoólicas ou drogas no bar, te julgo agora, por achar que algumas moedas e notas vão mesmo ajudar. Mais vale um coração aberto, disposto a não negar, do que uma mão aberta com receio de apertar.


E você, que pensa o lugar no céu assegurar? Me desculpe, também não é ponto que precisamos atentar. Afinal, é sobre mim ou sobre o outro? É sobre nós ou sobre eles? A gente se ajuda tentando ajudar, desde que o objetivo principal não seja só a nós salvar.


A cada dia mais figuras impressionantes se reúnem no farol. Qual cenário queremos construir? O que nossos olhos e olhares permitirão enxergar? Hoje, um homem com o braço curto, mãos inchadas e invertidas. Ontem, um homem sem as pernas, camiseta regata e braços em movimento na cadeira de rodas. E depois de amanhã?


Por Beatriz Melo

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