O racismo é uma merda!
Sem fundamento, sem justificativas e sem escrúpulos. Peço desculpas pela brutalidade do início, mas defendo que ela é necessária. Nunca fui defensora de causas raciais ou sociais a ponto de me manifestar ou protestar. Mas hoje foi diferente.
A menina com o tambor na mão, a tristeza no olhar e a súplica na fala, me despertou. Peraí! O que foi aquilo? Um ônibus, ainda parado no ponto fecha as suas portas e o condutor se nega a abrir mesmo vendo a passageira correndo e pedindo para entrar?! Pior. O motorista, um ser tal qual a moça, por não sentir empatia a impede de entrar!
Ela era negra, pele não tão escura quanto o chocolate e nem tão clara quanto o doce de leite. Vestia camiseta branca e calças jeans. Tinha cabelos curtos e crespos. Tambor e baqueta nas mãos. A princípio o olhar eufórico de quem pegaria o circular da faculdade para ir ensaiar. Em seguida, o semblante de quem custava a acreditar no que a estavam fazendo passar.
Ônibus parado. Portas abertas. Jovem se aproxima. Motorista olha. Portas se fecham.
Por que? O GÊNERO? A COR? A ETNIA? A VESTIMENTA? Não houve explicação....
- Moço!!! Espera moço!!!
(Ela corre)
- Por favor, moço! Deixa eu entrar?!!
Silêncio
- Por favor!!!!
(Ele a olha fixamente pelo retrovisor)
(Ela para cansada em frente da porta e suplica. Dessa vez apenas com o olhar)
Nenhuma palavra, apenas um olhar de reprovação.
- Poxa!!!
Diz ela com a voz desapontada
Ônibus parado. Portas fechadas. Nova troca intensa de olhares.
De um lado a súplica de um olhar, de outro a cabeça mexendo em sinal de negação. Ônibus acelera. Tambor e baquetas na mão. Agora, o corpo que antes corria vivaz para alcançar o veículo está em "C", como quem se cansou, não resistiu e esmoreceu.
- POXA!?!?
Ela repetiu, num tom doce e triste de quem pergunta se aquilo de fato aconteceu.
Não gritou. Não xingou. Não chorou. Só olhou para trás e observou: a quantidade de pessoas que nem por compaixão a ajudou.