Se essa rua, se essa rua fosse minha…
Ela não seria nem de longe tão acolhedora e plural
Essa rua poliglota, de sotaques, buzinas, cores e transparências
Hoje, tão saudosa
Guarda apenas a lembrança de seus amores
Nem minha e nem sua.
Ela é nossa.
De um frescor sem igual, que não vejo a hora de ter
Outrora tão popular, vive num misto de maré cheia e seca
Como eu em dias difíceis, é grão de areia na multidão
Pés transitam pela rua de forma fugaz
E as noites, antes tão badaladas,
Silenciam desesperos
Dentre marcas e muitas perdas
Já quase não avistava esperança
Cansada de romantizar a tal da quarentena
Pensei ao mal estar me entregar
Mas essa rua-selva salva
E tudo aquilo que ela representa inunda
Tão potente a ponto de ser combustível
Penso na liberdade
Intrínseca às artérias da cidade
e me vem um acalento recheado de saudade
Saudades do que um dia já foi banal
De todos os prazeres do mundo, quiçá o mais trivial
Saborear o vento no rosto
Sentir o calor do Sol no corpo
Poder nos tocar
Reaprender a andar. Falar.
E aos poucos engatinhar para fora do pensar
(Beatriz Melo)