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  • Foto do escritorBe Melo

Dez horas em Nova York

Memórias de uma conexão nada tradicional


Dá pra conhecer a cidade? Nem de longe. Gastar com hospedagem? Perda de tempo. É um bate e volta pro aeroporto? Praticamente. Mas Nova York é Nova York e sempre será um destino inesgotável.

Passar por ali, do alto do avião já dá uma emoção, mas desembarcar e sair rumo à Times Square foi uma experiência e tanto. Ao lado de uma amiga da faculdade, tinha como destino final Cracóvia, cidade polonesa, onde passaríamos 18 dias para fazer a cobertura jornalística de um importante evento sobre as mudanças climáticas.


Um pouco fora da rota, Nova York não estava nos planos. Para todos que explicávamos o roteiro do nosso caminho até a Polônia, nos perguntavam se não era mais fácil selecionar outra conexão, uma dentro do continente europeu por exemplo. Mas não teve jeito, logo que batemos o olho naquela opção, nada mais parecia interessante. Em todas as viagens precisaríamos fazer mais de uma escala. Algumas longas demais, outras tão curtas a ponto de termos que correr entre um voo e outro. Com isso, as 10 horas em Nova York eram muito sedutoras. Nossos olhos brilhavam cada vez mais por elas.


Passagens compradas, mala arrumada, checklist feito e toda a ansiedade aflorou. Detalhe: todo o processo da viagem aconteceu uma semana antes de embarcar. Quem diria que daria tempo de planejar. Museus, Central Park, lojas e mais lojas, restaurantes... “Aonde você quer ir, Bia?". Eu não sabia, só de estar lá já era bom, tudo seria novidade. Do vento na estação de metrô ao possível mergulho no Tussauds.


Para quem já havia passado pela experiência de pisar no Rio de Janeiro e só contemplar o Cristo Redentor pela janela do aeroporto, saber que sairíamos pelas ruas de Nova York já deixava um gostinho de quero mais antes mesmo de embarcar. A prova de história da arte não tinha uma concorrente leal. Naquela manhã do dia 29 de novembro, estávamos há 10 horas das melhores 10 horas que pretendíamos passar. Num ímpeto meio ansioso, concentramos a atenção na prova da faculdade, mas assim que a entregamos ao professor, nada mais segurava o meu pensar.


Finalmente, despertas pelo som da realidade, deixamos os confortáveis assentos da American Airlines. Já não estava tão agradável quanto o clima da aeronave, então, reposicionamos os casacos, recrutamos os passaportes e fomos rumo às nossas malas. Mais experiente do que eu, minha amiga já havia visitado a cidade uma vez. Então, não tivemos dúvida de que ela já conhecia o suficiente para nos guiar. Eu sabia que podia confiar. Na imigração, receei que toda a burocracia fosse nos atrasar. Afinal, os segundos em solo nova-iorquino não iam esperar. Como previsto, pegamos fila para nos apresentar, só não imaginávamos que na hora H, iriam nos separar.


Sem problemas até então. Afinal, não devíamos nada para a lei e nossos jovens rostos entusiasmados pareciam amigáveis. Foi quando o “policeman”, muito simpático, fez uma expressão meio engraçada. Olhou pra mim, olhou pro papel em minhas mãos, pra passagem aérea e depois pra mim de novo. Intrigado, perguntou se Nova York era meu destino final. Mesmo querendo dizer que sim e, quase aceitando o convite - que não foi feito - pra ficar, arquei com a verdade e respondi que não.


O jovem pra ser velho e velho pra ser jovem, ficou surpreso ao saber que ainda estávamos bem longe de descansar. A esta altura, tanto eu como a minha parceira de viagem já havíamos nos apontado como acompanhantes uma da outra. Descontraído, atrás do balcão cinza e dentro do uniforme azul, o agente desejou boa sorte, assentiu com a cabeça como se validasse o porquê da Polônia estar nos aguardando e me liberou, falando que esperava que da próxima vez a estadia fosse mais longa.


Ainda tínhamos 9 horas e meia pela frente. Sairíamos com as malas de rodinha ou pagaríamos por um armário para guardar? Interrompendo o meu fluxo de pensamento, outro funcionário já estava a postos pra verificar o nosso ticket de embarque. O bip da máquina ao ler o código de barras contou algo que não conseguimos entender. Tudo muito rápido e organizado, recebemos a autorização para colocar as malas em uma esteira. Meio desconfiadas, mas ao mesmo tempo aliviadas, agradecemos.


As 10 horas que não eram mais 10 horas acabavam de começar. Contra o relógio subimos incontáveis degraus, viramos direitas e esquerdas até chegar a uma estação, dentro do aeroporto. Separamos os dólares e demos entrada no vagão. É tudo tão bonito visto de cima que só a saída do aeroporto já vale como um passeio. A velocidade do metrô dava cada vez mais sentido ao tempo. Com vista panorâmica para a paisagem, estávamos na tão sonhada conexão.


Daí em diante foi pura energia, um vento igualmente congelante e gostoso nos recepcionou. Subimos as famosas escadas do subway. Surgimos na calçada da megalópole, iluminada de pessoas andando de um lado para o outro, barulhos de carro e construções. Café no Starbucks não poderia faltar. Pausa para foto na escadaria da TKTS, ainda meio tímida, não sabia ao certo para onde olhar.



Entre um story e outro para o Instagram, caminhamos a lá flâneurs pelas esquinas e calçadas que a cidade queria mostrar. Olhamos para a esquerda e eu mal podia acreditar. Jornalistas pelo acaso, nós duas, estávamos em frente ao The New York Times. A poucos metros da sede de um dos mais importantes jornais do mundo, partimos em direção a Carlo’s Bakery. Tão cheirosa e apetitosa quanto o programa da Discovery Home and Health costuma mostrar.


Uma passadinha na farmácia para comprar um hidratante labial. O frio de novembro tem alguns requisitos para poder aproveitar. Casaco corta-vento e Ugg nos pés, andávamos menos afoitas agora. Fui apresentada à famosa rua de um dos espetáculos da Broadway. Isso mesmo, um dos, já que o bairro tem vários teatros que contemplam as produções que vão desde Harry Potter ao Rei Leão.


Descobri então, o quão gostoso é caminhar sem saber o que esperar. Talvez para uma estadia mais longa, de um mês ou algo assim, seja necessário um roteiro para direcionar. Mas dias mais curtos ficam bem mais longos quando nós nos permitimos aproveitar. Não deu tempo de visitar o Nacional Museum ou o Madame Tussauds, mas pudemos provar a pizza de um dólar e todo o sabor que só uma aventura pode propor.


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