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  • Foto do escritorBe Melo

"A Mulher Rei": Uma Lição de Amor, Constelação, Ancestralidade Força e Humanidade.

Atualizado: 27 de dez. de 2022

"Agooojie!" , "USU!", "AGOJIE", "usu, usu!". Calma, calma. Se você não assistiu, certamente vai entender depois de ver. As palavras anteriores são de arrepiar. Pra lá de fortes, integram. Da poltrona do cinema, parecemos pertencer. Nanisca é necessária. A referência que há tempos buscávamos e nem sabíamos. Os olhos de quem há tempos grita, mas ninguém queria ouvir, transbordam força, coragem, feminilidade, história, empatia e muito mais. Esses olhos são das personagens, das atrizes, dos diretores e roteiristas, dos sonoplastas, do texto, da imagem, de um continente inteiro. Viola Davis deu vida e um show de interpretação no papel de guerreira e líder do exército do Reino de Daomé. Há tanta verdade nestes mesmos olhos e olhares, que nos primeiros segundos de tela, facilmente mergulhamos e compramos a narrativa.


"A Mulher Rei" materializa um longa-metragem com protagonismo feminino, baseado no grupo de amazonas da África Ocidental, do reino que de fato existiu entre os séculos XVII e XIX. Neste período, países europeus intimidavam, colonizavam e escravizavam cada vez mais porções da África. Alguns grupos rendiam-se ao comércio de conterrâneos em troca de mercadorias, eles mudaram o curso das coisas a tempo. Tá bom, prometo me conter para não dar spoiler, mas já adianto que a publicação deste post demorou a acontecer pela demorada assimilação do que vi. Da primeira vez saí digerindo cada cena. Cada palavra. E uma inexplicável dor no peito, cheia de explicação tomou conta de mim. Quis chorar, não consegui. Tamanha precisão no corte.


Quis ver de novo. E veria de novo e de novo e outra vez. A cada sessão, algo novo salta os olhos. É quase sempre assim. "A Mulher Rei" é grande porque não é rainha, é rei. Observamos que por vezes será necessário fazer-se ver fortaleza como forma de proteção a si mesma. A si e também uma tentativa de proteger aos outros, daquilo que nem sempre conseguimos ver. A saga do herói, ou melhor, da heroína é acompanhada sem estereótipos e obviedades, apesar de detectarmos que a união faz a força, mesmo que o inimigo tente te derrubar. "Para ser uma guerreira, é preciso matar as lágrimas"; "Às vezes um rato pode matar um elefante", são frases que gritam a trama, seguidos de, "O amor te enfraquece". Será mesmo? O filme nos mostra o contrário.


TRAILER

Pela primeira vez, fiz questão de assistir o filme a partir de diferentes possibilidades de experiência. Da sala D-Box, da rede Cinemark, foi possível sentir golpes, movimentos de câmera e galopes. Preciso dizer que comparado a sala convencional, existe um engrandecimento de emoções combinadas ao impacto das ações. Imagem, som e o balançar da cadeira recheiam o espectador de surpresas. Não tão agitado quanto o 4DX do Cinépolis JK costuma ser, mas ouso dizer que o filme se demonstra mais vivo do que nunca. O peso do filme em si não se perde ao assisti-lo de uma poltrona comum ou futuramente da sua cama ou do seu sofá, mas certamente ganha corpo e dinamismo, já que quase duas horas e quinze minutos separam o início do fim.


A pipoca pode tranquilamente ser de tamanho pequeno, sem manteiga e acompanhada de uma bebida com tampa. A não ser que você tenha o hábito de devorar guloseimas durante o trailer, independente da poltrona que escolher, pode fica difícil comer. Ambas as vivências acimas aconteceram no Shopping Eldorado. Por duas vezes o vi e ouvi legendado. Me agarro a impressão de que grande parte da trama está contida nos sotaques, dialetos e modos de falar. Estou na expectativa para assisti-lo dublado, mas enquanto isso, recomendo que os falantes da língua inglesa e alfabetizados presenteiem-se com o play no original legendado.


Agora, um fenômeno despertou a minha curiosidade. Segundos após o letreiro com o nome do filme surgir e as luzes começarem a acender, uma onda de pessoas levantou-se rapidamente como quem quer desembarcar do avião. Nem fila se formou, pois eles desciam as escadas com suas bolsas e parceiros sem pausas. Enquanto isso, eu tentava respirar. Acordar de um sufocamento que por tempos eu não via me abraçar. Achei que era ferida curada, mas nem de perto pode se curar. Ainda deglutindo, poucas pessoas restaram sentadas ou sem desenfrear.


Há tempos tenho buscado acompanhar os créditos. Pela minha profissão de jornalista, futura roteirista, pelo respeito aos artistas e por saber a numerosa equipe de profissionais que fazem o produto audiovisual acontecer. Ainda tendo visto da primeira vez e sabendo que nem todos se veem neste dever, me surpreendi de novo, quando no mesmo segundo, outro tantos levantaram-se e saíram com a mesma intensidade. O que que há? Formigas na cadeira ou certa confusão no ar? Vergonha pelo feito de antepassados, revolta com o retrato e trato de alguns? O que que há? Bom, gostaria de saber. Mas pra mim, foi difícil ver que o encontro de etnias que permeia o meu corpo e compõe o meu DNA é tão difuso e conflituoso. Pode ter havido histórias de amor. Mas também pude sentir as correntes, os abusos e a dor.


Apesar de tudo, tem amor e tem perdão. Se puderem, pesquisem sobre constelação. Em cartaz desde setembro, ficou muito forte pra mim o que ouvi de Viola Davis em uma entrevista. É preciso dar uma resposta às produtoras e à indústria desde as primeiras semanas de exibição de um filme. Precisamos mostrar pra eles que uma mulher negra também é capaz de lotar os cinemas tanto quanto o pantera negra. É gênero, é cor de pele, é profissão. Um ato político atravessado pela cultura e vice-versa. É sobre nós e sobre o mundo. É muito mais do que um filme. É o início de um novo tempo. Com sorte, mais conscientes da nossa história. Despertos do pensamento colonial, tomamos cada vez mais nossos espaços de volta e desvendamos a verdade por trás dos fatos que nos conduziram até 2022.


FICHA TÉCNICA, veja aqui


Bora pro cinema, galera! Na volta, passa aqui se quiser e, me conta o que achou!

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